É o diário de trabalho de um antigo capataz que participou das obras faraônicas de Gizé.
Novembro 10, 2017
Pirâmides de Gizé. Por José Manuel Nieves. Publicado na ABC Ciência
Não foram os extraterrestres, nem uma civilização antiga perdida nas névoas do tempo. As pirâmides foram construídas pelos egípcios. Isso é demonstrado pelo diário de trabalho de um ex-capataz que participou das obras faraônicas e que acabou com o ‘mistério’ da construção da Grande Pirâmide de Gizé. O documento, encontrado em 2013 no Mar Vermelho, acaba de ser exposto ao público no museu de Cairo.
A Grande Pirâmide de Gizé foi construída em homenagem ao faraó Quéops, que reinou entre 2551 e 2528 AEC), e é a maior das três pirâmides construídas no planalto de Gizé. Considerada como uma maravilha do mundo desde a antiguidade, a Grande Pirâmide medía, quando foi construída, 146 metros, embora hoje sua altura tenha sido reduzida para 138 metros.
O diário de notas foi escrito em caracteres hieróglifos em pedaços de papiro. Seu autor era um inspetor de obras chamado Merer, que segundo os arqueólogos Pierra Tallet e Gregory Marouard em um artigo publicado na Near Estern Archaeology, “era responsável por uma equipe de cerca de 200 homens”.
Tallet e Marouard são os diretores da equipe arqueológica da França no Egito, e encontraram o diário do capataz no porto de Wadi al Jarfin, no Mar Vermelho, no ano de 2013. A antiguidade atribuída ao documento é de cerca de 4500 anos, o que o torna o mais antigo papiro já descoberto no Egito.
De acordo com os pesquisadores, “O diário de trabalho abrange um período de vários meses, sob a forma de um calendário com duas colunas para cada dia, e detalha muitas das operações relacionadas à construção da Grande Pirâmide de Quéops em Gizé e o trabalho nas pedreiras de calcário na margem oposta do Nilo”.
Merer escreve essas notas durante o 27º ano do reinado de Quéops. Seus registros indicam que naquela época a Grande Pirâmide estava quase terminada, e que grande parte do trabalho restante se concentrava na construção da casca de calcário que cobria a parte exterior da pirâmide.
Pedras levadas ao barco
De acordo com o antigo diário, a padre calcária utilizada para esse propósito foi extraída em Tura, perto do atual Cairo, e foi levada para o local da Pirâmide de barco ao longo do rio Nilo e um sistema de canais. Um barco demorava quatro dias para percorrer a distância entre a pedreira de Tura e a pirâmide.
O diário de trabalho também afirma que no 27º ano do reinado de Quéops, a construção da Grande Pirâmide estava sendo supervisionada pelo vizir Ankhaf (também escrito Anjaf), o meio irmão de Quéops (Um vizir era um funcionário sênior no antigo Egito que servia o rei)
O papiro, de acordo com Tallet e Marouard, também revela que um dos títulos de Ankhaf era o de “chefe de todas as obras do rei”. Embora o registro de trabalho assegure que Ankhaf foi responsável pelas obras no 27º ano do faraó, muitos estudiosos acreditam que é possível que outra pessoa, possivelmente o vizir Hemiunu, tenha se encarregado da construção das pirâmides durante a primeira parte do reinado de Quéops.
Os responsáveis pelo Museu de Cairo não especificaram por quanto tempo o valioso documento estará disponível para o público.
Referência
Tallet, P., & Marouard, G. (2014). The Harbor of Khufu on the Red Sea Coast at Wadi al-Jarf, Egypt. Near Eastern Archaeology (NEA), 77(1), 4-14.
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