O Vale dos Reis no Egito é o lugar onde a maioria dos faraós do Reino Novo foram enterrados, isto é, desde aquele tempo em que o Egito antigo era um império que se estendia ao longo da costa leste do Mediterrâneo (a 18a, 19a e 20a dinastias). Foi lá que eles foram enterrados, por exemplo, Tutmés III, Tutancâmon e Ramsés.
IMAGEM INTERNA DA TUMBA DE RAMSÉS V, NO VALE DOS REIS
O Vale dos Reis é uma região no Egito onde, durante o período do Novo Império (c. 1550-1070 a.C.), foram construídas as tumbas para os faraós e nobres da 18ª à 20ª dinastias. Localizado na margem oeste do Nilo, perto da moderna cidade de Luxor, este vale é famoso pela riqueza e complexidade das sepulturas ali descobertas.
História e Descobertas
A escolha do local, inicialmente, deveu-se à sua localização remota e protegida, que dificultava a ação de ladrões de tumbas. O primeiro faraó a ser sepultado no Vale dos Reis foi Tutemés I, cujo vizir Ineni supervisionou a construção de sua tumba (KV38). A partir de então, o vale tornou-se o principal cemitério real, substituindo as pirâmides do Reino Antigo.
Entre as descobertas mais notáveis está a tumba de Tutancâmon (KV62), escavada por Howard Carter em 1922. Esta tumba, embora relativamente pequena, é famosa por ter sido encontrada quase intacta, com um tesouro impressionante que inclui o famoso sarcófago de ouro do jovem faraó. Outra tumba significativa é a de Ramsés VI (KV9), conhecida por seus extensos textos religiosos e belos relevos.
Arquitetura e Arte
As tumbas no Vale dos Reis são esculpidas diretamente na rocha e seguem um layout padrão que evoluiu ao longo do tempo. Elas geralmente incluem um longo corredor que leva a várias câmaras e, finalmente, à câmara mortuária. As paredes das tumbas são ricamente decoradas com cenas religiosas e textos do "Livro dos Mortos", "Livro das Cavernas" e outras obras litúrgicas, que guiariam o faraó na vida após a morte.
A tumba de Seti I (KV17) é particularmente famosa pela qualidade e beleza de suas pinturas e relevos. Esta tumba é uma das mais longas e profundas do vale e apresenta uma representação detalhada do "Livro das Portas", que descreve a jornada do sol através do submundo.
Preservação e Desafios
O Vale dos Reis enfrenta desafios significativos em termos de preservação. A combinação de turismo massivo, condições ambientais e inundações ocasionais tem causado danos às tumbas e suas decorações. Esforços contínuos de conservação e restauração são essenciais para proteger este patrimônio histórico. Além disso, a construção de réplicas de algumas tumbas, como a de Tutancâmon, tem sido uma estratégia para minimizar o impacto do turismo.
Significado Histórico
O Vale dos Reis é um testemunho do poder e da riqueza do Novo Império Egípcio, bem como das crenças e práticas funerárias complexas da época. As tumbas e seus artefatos fornecem uma visão inestimável da religião, arte e sociedade do antigo Egito. Este local continua a fascinar arqueólogos e visitantes de todo o mundo, oferecendo novos insights à medida que escavações e estudos avançam.
Fontes:
- Reeves, Nicholas. "The Complete Valley of the Kings." Thames & Hudson, 1996.
- Wilkinson, Richard H. "The Royal Tombs of Ancient Egypt." Routledge, 2016.
- Weeks, Kent R. "The Lost Tomb: The Greatest Discovery at the Valley of the Kings since Tutankhamun." HarperCollins, 1998.
Os soberanos do Império Novo, o período de maior esplendor do Antigo Egito, foram sepultados em túmulos escavados num árido e estreito vale a oeste da sua capital, Tebas.
Só as pirâmides parecem competir em celebridade com os túmulos profusamente decorados que foram escavados no Vale dos Reis para sepultar os faraós do Império Novo. Mas como se transitou de umas para os outros?
Para o compreender, temos de recuar às origens do Antigo Egito e ao momento em que os faraós das duas primeiras dinastias(em 3000-2660 a.C.) eram sepultados em câmaras escavadas no solo sobre as quais em seguida se construía uma estrutura rectangular, a “mastaba”. Na III dinastia, no início do Império Antigo (2660-2180 a.C.), estas mastabas transformaram-se nas pirâmides escalonadas de pedra, que passaram a ter faces lisas na IV dinastia (a época das pirâmides de Guiza) e que durante o Império Médio (2040-1780 a.C.) foram revestidas com lajes de calcário.
Eram sepulturas maravilhosas, que satisfaziam as necessidades de ostentação e de proteção do corpo do faraó, enquanto existiu no território uma autoridade central forte. Essa autoridade viria a desaparecer nos períodos intermediários que separaram o Império Antigo do Império Médio e este do Império Novo e foi sobretudo então que ocorreram os saques de túmulos.
A recuperação da autoridade faraónica deu azo à fase de maior esplendor do Egipto: o Império Novo (1560-1070 a.C.), que teve a sua capital na cidade de Tebas. Ali existia a tradição de sepultamentos emtúmulos escavados nas paredes das montanhas e colinas da margem ocidental do Nilo. Reconhecendo a natureza pouco segura das pirâmides e da velha tradição funerária, os monarcas da nova dinastia prescindiram das potencialmente saqueáveis pirâmides e optaram por enormes túmulos subterrâneos (os hipogeus) profusamente decorados. Para maior protecção das suas múmias, decidiram também separar o local de culto do soberano do seu lugar de enterro, preferindo um vale escondido por trás de uma escarpa de rocha, com uma pequena entrada fácil de vigiar.
A necrópole de milhões de anos
Essa necrópole, conhecida na altura como “a grande e nobre necrópole de milhões de anos do faraó, que viva, seja próspero e tenha saúde, a oeste de Tebas”, só seria abandonada durante o Terceiro Período Intermediário (1070-664 a.C.), quando a capital do Egipto e os túmulos reais foram transferidos para o delta. Na época grega e romana, os túmulos abertos do Vale dos Reis foram um local de visita habitual para os turistas, que deixaram inscrições nas suas paredes.
Na época copta (século IV d.C.), uma comunidade de cristãos decidiu usar os hipogeus como residências para uma vida monástica em solidão sem prestar demasiada atenção ao seu conteúdo ou anterior função. O desinteresse pelos túmulos prolongou-se até à época muçulmana a partir do século VII d.C. O local recebeu então o nome actual de Biban al-Moluk, “O Vale das Portas dos Reis”.
A fase das explorações “arqueológicas” modernas foi inaugurada em 1799, quando Vivant Denon visitou o local acompanhado pelas tropas napoleónicas. Chegariam mais tarde as escavações de Giovanni Belzoni (o homem que descobriu o túmulo de Seti I) e outros antiquários. Só com a criação do Serviço de Antiguidades do Egito em 1858 é que se deu início ao estudo científico do Vale dos Reis e dos seus tesouros, no qual se destacaram o egiptólogo Victor Loret (autor de 17 descobertas de túmulos) e o investidor norte-americano Theodore Davis (sob cujo patrocínio foram abertos 34 hipogeus).
Em 1922, quando já se considerava que a tarefa estava praticamente terminada, Howard Carter viria a identificar ainda o túmulo de Tutankhamon – o mais vistoso de todos, na medida em que não fora penetrado por salteadores e preservava todo o espólio funerário do faraó-menino.
As recentes descobertas dos túmulos KV63 (encontrado em 2005 nas campanhas de Otto Schaden), KV64 (identificado em 2011 por Susanne Bickel e Elina Paulin-Grothe) e KV65 (em 2018 pela equipa de Zahi Hawass) demonstram que o vale continua a conter informação muito valiosa.
Só 26 dos 65 túmulos encontrados no Vale dos Reis são de faraós. A sua denominação é formada pelas letras KV (iniciais de King Valley, Vale dos Reis, em inglês) e um número que, a partir do KV21, segue a ordem de descoberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário